Na semana em que comemora seu 10º aniversário, a Cinemateca Capitólio exibe ao ar livre o primeiro longa-metragem gaúcho restaurado pela instituição
Traga sua cadeira, prepare seu piquenique e venha celebrar! No próximo dia 29 de março (sábado), às 20h, a Cinemateca Capitólio, dentro da programação comemorativa de seu 10º aniversário de inauguração, realiza uma exibição ao ar livre do clássico do cinema gaúcho Um é Pouco, Dois é Bom (1970), de Odilon Lopez. Na ocasião, será exibida a cópia restaurada em 4k do filme, que é o primeiro longa-metragem assinado por um diretor negro no Rio Grande do Sul, antecedida pelo curta Chibo, de Henrique Lahude e Gabriela Poester. A iniciativa é uma parceria entre a Coordenação de Cinema e Audiovisual da Secretaria de Cultura de Porto Alegre e a FUNDACINE RS, através do projeto RodaCine.
A restauração de Um é Pouco, Dois é Bom foi viabilizada em 2024 através de uma parceria entre a Cinemateca Capitólio, a Indeterminações, plataforma de crítica e cinema negro brasileiro, e a Mnemosine Serviços Audiovisuais, e contou ainda com o apoio do Itaú Cultural. O filme é produzido, roteirizado, protagonizado e dirigido por Odilon Lopez (1941-2002) e tem diálogos assinados por um jovem Luis Fernando Verissimo, então ainda em início de carreira. Dividido em dois episódios, “Com… um Pouquinho de Sorte”, protagonizado por Araci Esteves e Carlos Carvalho, e “Vida Nova… por Acaso”, em que Odilon Lopez é o protagonista ao lado de Francisco Silva, o filme equilibra drama e humor para falar das desigualdades do país durante a ditadura militar, além de trazer uma abordagem pioneira sobre o racismo.
O processo de restauração digital em 4K de Um é Pouco, Dois é Bom se deu a partir dos negativos originais de imagem e som em 35mm do filme, que se encontram depositados em perfeito estado de conservação na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Até o momento, apenas a segunda parte do filme, formado por dois episódios, estava disponível (digitalizada em baixa resolução em 2006 pelo ator, diretor e produtor Zózimo Bulbul), limitando o conhecimento da obra em sua integralidade. O primeiro episódio, protagonizado por Araci Esteves e Carlos Carvalho e visto por muito poucos espectadores, agora pode ser assistido e certamente surpreenderá os espectadores pela contundência de sua crítica ao milagre econômico brasileiro.
O cotejo dos negativos com a única cópia positiva em 35mm ainda disponível do filme, depositada desde 2017 no acervo da Cinemateca Capitólio, possibilitou a descoberta de material inédito, com sequências mais longas e planos nunca antes vistos. Devido ao excelente estado de conservação do material, também foi possível recuperar a exuberância de suas cores.
A digitalização em 4K de Um é Pouco, Dois é Bom foi realizada no laboratório da Link Digital, no Rio de Janeiro. O trabalho teve a supervisão de Debora Butruce, conceituada profissional da área da preservação audiovisual, responsável pela restauração de obras importantes do cinema brasileiro como Rainha Diaba, A Hora da Estrela, Iracema, uma Transa Amazônica e A Mulher de Todos, entre outros.
A estreia da restauração digital de Um é Pouco, Dois é Bom aconteceu no 13º Olhar de Cinema, em Curitiba, em junho de 2024. Na ocasião, o filme integrou a seção Olhares Clássicos deste que é um dos eventos cinematográficos mais prestigiados do Brasil. Na ocasião, Gabriel Borges, um dos diretores artísticos do festival, destacou que “na história do casal Jorge e Maria ou na jornada pelas desventuras dos cativantes Magrão e Crioulo, o cineasta adentra, pelo particular, o debate de questões sociais, como o racismo e a marginalização cíclica de seus personagens, neste que é o primeiro longa-metragem dirigido por uma pessoa negra no Sul do Brasil”. Desde então, a cópia restaurada de Um é Pouco, Dois é Bom já foi exibida em vários festivais pelo Brasil (entre eles o Festival do Rio, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e o Janela Internacional de Cinema de Recife), e também no exterior, com sessões na Argentina, no Chile e em Portugal.
Sobre o curta Chibo
Vencedor do prêmio de melhor curta-metragem no Festival de Cinema de Gramado em 2024, Chibo é dirigido por Henrique Lahude e Gabriela Poester. Na fronteira entre Brasil e Argentina, uma família vive às margens do rio Uruguai e trabalha com chibo – travessia clandestina de mercadorias para subsistência, comércio e pessoas. Dani, a filha mais velha, está prestes a concluir o ensino médio e enfrenta as decisões dessa fase da vida.
Sobre o Rodacine
O projeto cultural RodaCine é uma das iniciativas de maior êxito dentro do cenário audiovisual brasileiro no que diz respeito à difusão e circulação dos produtos cinematográficos, à descentralização da exibição e à democratização do acesso ao cinema nacional. Ao longo de 14 anos executou mais de 1,2 mil sessões de exibição gratuitas em todo o território gaúcho, levando o cinema a mais de 450 mil pessoas que careciam de salas de projeção em suas cidades. Depois de uma interrupção, o projeto está sendo retomado em 2025, também como um marco dos 25 anos da FUNDACINE.
Ao longo de 2025, o RodaCine irá percorrer 20 municípios do interior do Estado do RS exibindo exclusivamente obras audiovisuais gaúchas, como uma forma de valorizar e incentivar a indústria do audiovisual local, oferecendo a milhares de gaúchos e gaúchas a experiência singular de estar no cinema e poder usufruir de uma obra audiovisual. Uma realização da FUNDACINE RS, o RodaCine é financiado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022, da Lei Paulo Gustavo e da Netflix Brasil.
Sinopses
Um é Pouco, Dois é Bom
Brasil, 1970, ficção, 94 minutos, exibição em DCP
Classificação indicativa: livre
Duas histórias. Dois contos. Em “Com um Pouquinho… de Sorte”, Jorge e Maria vivem os problemas de um novo casal que sonha em ter a própria casa e constituir família. Em “Vida Nova… por Acaso”, Magrão e Crioulo acabam exatamente onde começaram, na penitenciária. Eles sonham com uma “vida nova”.
Chibo
Brasil, 2024, documentário, 18 minutos, exibição em DCP
Classificação indicativa: 10 anos
Na fronteira entre Brasil e Argentina, uma família vive às margens do rio Uruguai e trabalha com chibo – travessia clandestina de mercadorias para subsistência, comércio e pessoas. Dani, a filha mais velha, está prestes a concluir o ensino médio e enfrenta as decisões dessa fase da vida.
Serviço:
Exibição da cópia restaurada de Um é Pouco, Dois é Bom, de Odilon Lopez, e do curta Chibo, de Henrique Lahude e Gabriela Poester
Data: 29 de março de 2025
Horário: 20h
Local: Largo dos Açorianos (próximo ao Marco a Zumbi, Monumento de Aço)
Entrada gratuita