O cinema é uma arte que se alimenta de si mesma, e as salas de exibição não são apenas locais de projeção, mas também fontes inesgotáveis de inspiração. Desde os primórdios do cinema, a própria sala escura, com sua tela iluminada e sua plateia imersa na narrativa, tornou-se um símbolo poderoso, capaz de influenciar a maneira como os filmes são concebidos.
As salas de cinema tornaram-se receptáculos de memórias afetivas, e muitos realizadores exploraram este ambiente como metáfora, tanto para o sonho como para os pesadelos, onde a vida de seus espectadores se confunde com as tramas projetadas na tela.
A mostra O cinema vai ao cinema reúne obras onde a sala de projeção deixa de ser apenas um espaço físico para se tornar um elemento narrativo, e outras onde o ato de fazer cinema é o verdadeiro protagonista; filmes que desvelam as engrenagens que movem a fábrica de ilusões, e ondea experiência coletiva do espectador influencia a narrativa fílmica.
A mostra tem apoio do Instituto Cervantes de Porto Alegre, da Filmoteca de Catalunya, da Versátil Home Vídeo, e da Obras-primas do Cinema.
Produção: Cristian Verardi e Cinemateca Capitólio
FILMES
Splendor
(Splendor / ITA / 1989 / 115’, digital)
Dir: Ettore Scola
O cineasta Ettore Scola homenageia o poder de encantamento do cinema em um conto nostálgico e melancólico. A história se passa em um antigo cinema chamado Splendor, administrado pelo dedicado e sonhador Jordan (Marcello Mastroianni). Com a crescente popularidade da televisão e dos multiplexes, o velho cinema luta para sobreviver, refletindo o declínio de uma era. Através de encontros com frequentadores fiéis, funcionários e memórias do próprio Jordan, o filme celebra a relação íntima entre a plateia e a tela, capturando a beleza efêmera de uma forma de arte em extinção. Com sensibilidade e um toque de melancolia, Splendor é uma carta de amor ao cinema e aos sonhos que ele inspira.
A Rosa Púrpura do Cairo
(The Purple Rose of Cairo / EUA / 1985 / 82’, digital)
Dir: Woody Allen
Na década de 1930, durante a Grande Depressão nos EUA, Cecilia (Mia Farrow) é uma mulher infeliz no casamento que encontra escape no cinema. Durante uma sessão do filme A Rosa Púrpura do Cairo, o personagem Tom Baxter (Jeff Daniels) sai da tela e entra em seu mundo, causando confusão e despertando sentimentos inesperados. Enquanto isso, o ator que interpreta Tom, Gil Shepherd, também entra na vida de Cecilia, criando um triângulo amoroso surreal entre a realidade e a fantasia.
Projeto Raros: Hollywood 90028
(Idem / EUA / 1973 / 87’, DCP)
Direção: Christina Hornisher
Sessão seguida de debate com o Cineclube Academia das Musas, conduzido pela crítica e programadora Juliana Costa.
Entrada franca
Mark, um indivíduo deslocado, viaja para Hollywood na esperança de se tornar fotógrafo na indústria do cinema. Infelizmente, o únicos trabalhos que consegue encontrar são em filmes pornográficos para um produtor desonesto. Assombrado pelas lembranças de sua mãe autoritária e atormentado pela culpa por ter acidentalmente causado a morte de seu irmãozinho durante a infância, Mark começa a liberar suas frustrações estrangulando jovens mulheres. Esta obscura produção underground foi dirigida em 1973 por Christina Hornisher, cineasta que fez parte da cena experimental e marginal de Los Angeles nos anos 1970. O filme é um retrato cru da vida nos subúrbios de Hollywood, capturando a atmosfera decadente e os sonhos perdidos de artistas e outsiders. Comparado a The Peeping Tom e Taxi Driver, o filme conta com uma trilha sonora do lendário compositor Basil Poledouris (Conan, o Bárbaro e Robocop). Foi exibido em cinemas grindhouse e drive-ins sob os títulos The Hollywood Hillside Strangler e Twisted Throats, mas nunca foi lançado na televisão ou em vídeo doméstico nos Estados Unidos. Resgatado do esquecimento pela Grindhouse Releasing, Hollywood 90028 chega agora aos cinemas em uma nova restauração 4K a partir dos negativos originais. A sessão do Projeto Raros marca a estreia latino-americana da restauração.
Matinee: Uma Sessão Muito Louca
(Matinee / EUA / 1993 / 99’, digital)
Direção: Joe Dante
Em meio à tensão da Crise dos Mísseis de Cuba em 1962, o mestre do cinema B Lawrence Woolsey (John Goodman) chega em uma pequena cidade para promover seu novo filme de terror, “Mant!”, uma produção repleta de efeitos sensoriais e truques baratos. Enquanto os moradores lidam com o medo real de um possível conflito nuclear, Woolsey transforma o cinema local em um espetáculo de sustos e diversão, misturando ficção e realidade. O jovem Gene (Simon Fenton), um fã de filmes de horror, se envolve na promoção do espetáculo e descobre que, às vezes, o escapismo do cinema pode ser a melhor maneira de enfrentar os temores da vida.
Sessão da Vingança: Ne Pas Projeter + Demons – Os Filhos das Trevas
Ne Pas Projeter
(Idem / BR / 2015 /13’, DCP)
Direção: Cristian Verardi
Entrada franca
Um projecionista solitário trabalha em um cinema decadente, onde as fronteiras entre realidade e delírio se dissolvem. Ao se deparar com um rolo de filme misterioso, ele é levado a uma espiral de horror e loucura, descobrindo que as imagens projetadas têm um poder maligno e incontrolável. Uma reflexão metalinguística sobre o próprio ato de assistir e projetar filmes. Em 2015 o filme foi exibido em SITGES, no 48° Festival Internacional de Cinema Fantástic de Catalunya, um dos mais renomados festivais de cinema de gênero do mundo.
Demons – Filhos das Trevas
(Dèmoni / ITA / 1985 / 88’, digital)
Direção: Lamberto Bava
Entrada franca
Berlim, anos 1980: um grupo de desconhecidos recebe ingressos misteriosos para uma exibição exclusiva em um cinema abandonado. O filme em cartaz, um horror sobre uma máscara demoníaca, revela-se mais do que apenas ficção quando os espectadores começam a se transformar em criaturas sanguinárias. Presos dentro do cinema, os sobreviventes precisam lutar para escapar enquanto a infecção demoníaca se espalha em um frenesi de violência. Dirigido por Lamberto Bava (filho do lendário Mario Bava) e produzido por Dario Argento, Demons é um clássico do horror italiano dos anos 80, misturando gore excessivo, atmosfera claustrofóbica e uma trilha sonora eletrizante com bandas como Mötley Crüe, Accept e Billy Idol. Uma celebração ultraviolenta do cinema de gênero, onde a tela e a realidade se fundem em um pesadelo inescapável
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
Saneamento Básico, o Filme
(Idem / BR / 2007 / 112’, DCP)
Direção: Jorge Furtado
Moradores de uma pequena vila se juntam para pleitear a construção de uma estação de tratamento de esgoto. Para conseguir o dinheiro, eles precisam fazer um filme de ficção. Restaurado em 4K, o filme será exibido em sessões duplas com o curta-metragem de Jorge Furtado, “Ilha das Flores”. A sessão será comentada pelo diretor Jorge Furtado e pela produtora Nora Goulart.
O Dia do Gafanhoto
(The Day of the Locust / EUA / 1975 / 144’, digital)
Direção: John Schlesinger
Em “O Dia do Gafanhoto”, adaptação romance homônimo de Nathanael West, o diretor John Schlesinger mergulha no lado sombrio do sonho hollywoodiano durante os anos 1930. Tod Hackett (William Atherton), um artista ingênuo, se vê envolvido no mundo superficial e decadente de Los Angeles, onde conhece figuras patéticas e obsessivas, como a aspirante a atriz Faye Greener (Karen Black) e o contador solitário Homer Simpson (Donald Sutherland). Com um tom ácido O Dia do Gafanhoto faz uma crítica devastadora à ilusão do sucesso e à desumanização causada pela indústria do entretenimento. O ator Burgess Meredith foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de 1976 pelo papel de Harry, um ator decadente e alcoólatra.
Ed Wood
(Ed Wood / EUA / 1994 / 127’, digital)
Direção: Tim Burton
Ed Wood é uma cinebiografia afetuosa de Edward D. Wood Jr. (Johnny Depp), considerado por muitos o pior diretor de todos os tempos. Com sonhos grandiosos no cinema, Wood enfrenta orçamentos ridículos, críticas devastadoras e a rejeição da indústria, mas persiste com otimismo inabalável. Apoiado por um elenco excêntrico, incluindo o então decadente Béla Lugosi (Martin Landau, em performance vencedora do Oscar), ele dirige Plano 9 do Espaço Sideral, uma ficção científica que ficaria marcada com a fama de ser um dos piores filmes já feitos. Dirigido por Tim Burton, o filme é uma celebração da paixão pela arte, mesmo diante do fracasso, retratando Wood como um sonhador sincero em um mundo que nunca o compreendeu.
O Menor Espetáculo da Terra
(The Smallest Show on Earth / UK / 1957, 80’, digital)
Direção: Basil Dearden
Quando o jovem casal (Bill Travers e Virginia McKenna) herda um cinema decadente chamado The Bijou, eles descobrem que a pequena sala de projeção, onde trabalham um excêntrico trio de funcionários (Peter Sellers, Margaret Rutherford e Bernard Miles), vale menos que o terreno onde está construída. Decididos a lucrar com a venda, eles tentam revitalizar o local com sessões caóticas de filmes antigos, desencadeando uma guerra hilária com o concorrente, um cinema mais moderno da cidade. Com charme britânico e humor nostálgico, The Smallest Show on Earth é uma comédia afetuosa sobre o amor ao cinema, mesmo em suas formas mais precárias. Uma celebração das salas de exibição esquecidas e das pessoas que mantêm viva a magia do espetáculo.
O Homem que deixou seu Testamento No Filme
(Tokyo senso sengo hiwa / JAP / 1970 / 94’, digital)
Direção: Nagisa Oshima
Entrada franca
Enquanto tenta recuperar a sua câmera, confiscada pela polícia durante as filmagens de uma manifestação estudantil, um jovem testemunha o suicídio de um amigo, que deixa um filme inacabado como testamento.
Os Olhos da Cidade São Meus
(Angustia / ESP/ 1987 / 86’)
Direção: Bigas Luna
Entrada franca
John (Michael Lerner), é um homem emocionalmente frágil que vive sob o controle de sua mãe dominadora (Zelda Rubinstein). Sob a influência hipnótica dela, John é levado a cometer uma série de assassinatos brutais, sempre extraindo os olhos de suas vítimas, num um ritual macabro ligado às obsessões da mãe. Porém, o filme toma um rumo inesperado quando revela que essa narrativa é, na verdade, um filme dentro do filme, intitulado The Mommy. Aos poucos, a violência da tela começa a se infiltrar na vida real dos espectadores que assistem a essa produção em um cinema, criando uma espiral de terror meta-cinematográfico. A sessão é um oferecimento do Instituto Cervantes de Porto Alegre e da Filmoteca de Catalunya.
Projeto Raros: Vida em Sombras
(Vida en Sombras / ESP /1949 / 90’)
Direção: Lorenzo Llobet Gracia
Entrada franca
Vida en Sombras é um filme singular no cinema espanhol do pós-guerra, considerado uma obra pioneira do metacinema. A trama segue Carlos Durán, um diretor de cinema que, após perder sua esposa em um bombardeio durante a Guerra Civil Espanhola, mergulha em uma profunda depressão e abandona sua carreira. Anos depois, ao reencontrar um antigo colega, ele retorna ao mundo do cinema, mas agora obcecado pela ideia de recriar a imagem de sua falecida esposa através das películas. Retrato comovente de um homem apaixonado pelo cinema, que nasce sob a sombra dos Lumière e ressuscita graças a Hitchcock, este título fundamental da cinematografia espanhola narra a história de um cineasta fictício para quem o cinema é vital em momentos decisivos de sua vida. Llorenç Llobet Gràcia (1911–1976) era um cineasta amador de Sabadell que, com Vida en sombras, fez sua estreia no formato 35mm. Infelizmente, diversas dificuldades adiaram a estreia do filme por quatro anos após as filmagens, e os negativos originais desapareceram. Como resultado, o filme caiu no esquecimento até ser redescoberto nos anos 1980, a partir das duas únicas cópias existentes em 16 mm. Em 2007, a Filmoteca de Catalunya localizou uma dessas raras cópias e iniciou sua restauração, com a colaboração da Filmoteca Española e dos Laboratórios Deluxe Barcelona, aproveitando os recursos da tecnologia digital. A sessão é um oferecimento do Instituto Cervantes de Porto Alegre e da Filmoteca de Catalunya.
GRADE DE HORÁRIOS
22 de maio (quinta-feira)
19h – Splendor
23 de maio (sexta-feira)
18h – A Rosa Púrpura do Cairo
19h30 – Projeto Raros: Hollywood 90028
24 de maio (sábado)
19h – Matinee – Uma Sessão Muito Louca
25 de maio (domingo)
18h – Nes Pas Projeter + Demons – Filhos das Trevas + debate
28 de maio (quarta-feira)
19h30 – A Rosa Púrpura do Cairo
30 de maio (sexta-feira)
15h – Splendor
19h – Ilha das Flores + Saneamento Básico + debate
31 de maio (sábado)
16h30 – O Dia do Gafanhoto
19h – Os Olhos da Cidade São Meus
01 de junho (domingo)
17h – O Menor Espetáculo da Terra
18h30 – Ed Wood
03 de junho (terça-feira)
19h – O Homem que Deixou seu Testamento no Filme
04 de junho (quarta-feira)
15h – Ed Wood
05 de junho (quinta-feira)
15h – Matinee – Uma Sessão Muito Louca
06 de junho (sexta-feira)
19h30 – Projeto Raros: Vida em Sombras